Segundo dia: Passei a noite na fila do postinho, não consegui pegar a ficha, mas amanhã eu e meu dente voltaremos...
Décimo sexto Anador: Cara, a fila tá muito grande, vou pra escola e amanhã eu chego mais cedo. Chegando na escola meu dente começou a doer, mas dava pra levar assim mesmo, a dor era razoável. Quando chegou na aula de matemática, a dor aumentou muito e pedi ao professor para ir embora. Minha amiga com dó, me deu o décimo sétimo Anador.
Terceiro dia: Hoje eu consigo! Minha mãe veio comigo ao postinho. Chegamos às 2:00 horas da madrugada e já tinham 28 pessoas na nossa frente.
Quarto dia: Consegui a minha ficha. Hum, deixa-me ver... Nosso Deus, minha consulta ficou pra daqui a 19 dias! Até lá eu vou morrer de tanta dor de dente!!!
Dezenove dias depois: fui feliz ao posto, quando cheguei lá, o dentista estava de férias e voltava só na próxima semana.
O grande dia: Cheguei no posto, e como se não fosse pouco, ainda tive que enfrentar uma fila de espera para me consultar com o tão almejado dentista.
1 hora de espera: Consegui minha consulta com o dentista, mas ele me passou um remédio muito caro e que não tem no postinho. Pra você ter uma noção, o remédio é tão caro que quase foi meu salário todo.
Depois da compra do remédio: Fui ao posto de saúde, e não acreditei quando ouvi todos os médicos comentando que estavam em greve. Quase caí para trás com essa notícia, mas voltei para casa com a esperança de ainda conseguir arrancar esse bendito dente que não me deixa mais dormir. Aliás, não era só o dente que não me deixava dormir. Só de pensar que o dinheiro que eu gastei no remédio podia ser gasto em outra coisa, meu dente começava a doer.
2 meses após as greves do postinho de saúde : Fui decidido a vencer essa batalha custe o que custar. Cheguei ao posto de saúde e vi que meu dentista estava lá. Esperançoso, entrei na fila de espera e depois de alguns minutos consegui ser atendido e pude arrancar meu dente.
Chegando em casa: Fui ver um pouco de TV, e vi um depoimento de um médico que dizia: “Vamos entrar em greve, por que o governo tem atrasado demais os nossos salários, além da gente receber muito pouco, ainda fazem isso com a gente”.
Depois de ouvir aquela entrevista fiquei pensando: A gente vive reclamando que o atendimento nos postos de saúde é péssimo. Se pensarmos bem, a culpa não é apenas dos funcionários. Aliás, eles são poucos para muita gente. Por não ter equipamentos e medicamentos de qualidade, os postos de saúde acabam dando a comunidade um péssimo tratamento. Têm dias que o postinho tá tão lotado que não cabe nem uma perna lá dentro, causando vários tumultos que a gente vive vendo por aí.
Refletindo: Bom! A minha história retrata a realidade de muita gente. Hoje foi o meu dente, mas amanhã pode ser a perna da dona Maria, as costas da Luiza, etc. Na boa gente, as vezes eu fico pensando...embora muitos médicos atendam com má vontade, eles não são os únicos culpados pelo péssimo atendimento no postinho. Mas se a culpa não é deles, de quem é então? Será que é justo pagarmos impostos tão caros para termos uma péssima qualidade na nossa saúde pública? E o que a gente pode fazer para mudar isso? São coisas assim que me deixam indignado. Se a comunidade se reunisse para cobrar uma melhoria na saúde pública e nas condições gerais de nossos bairros, talvez algo poderia ser mudado.
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