sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ser negro é??


Desde quando o Brasil foi “descoberto” pelos portugueses, houve a necessidade de obter mão de obra barata para trabalhar nos cafezais e canaviais. Naquela época os negros foram raptados de sua terra, e submetidos a trabalhos escravos e a sessões de torturas constantes. Mesmo com tudo isso uma coisa existia entre eles, a força de vontade de lutar por uma vida melhor, pois sabiam que aquilo que estavam passando não era vida para eles.

Os negros nunca desistiram de sua liberdade. Mesmo sendo reprimidos pelos seus senhores, provocavam fugas e rebeliões como forma de pressionar a sociedade a lhe concederem a liberdade. Depois de muita luta os negros conseguiram uma suposta liberdade, que foi assinada pela princesa Isabel através da Lei Áurea (a lei área foi um documento que decretou a abolição da escravidão no Brasil). Hoje vemos que a princesa Isabel sempre foi vista pela sociedade como a salvadora do povo negro, mas é importante dizer que quem lutou e ralou por uma liberdade justa e não discriminatória foram os próprios negros.

Depois que a Lei Áurea foi assinada, os negros não conseguiram se encaixar na sociedade por não terem estudo e nem uma garantia mínima de sobrevivência. Por conta disso, os negros ficaram a margem da sociedade, formando assim as periferias. Hoje podemos ver que a população das periferias é basicamente negra, e que muitas das vezes não conseguem sequer uma oportunidade profissional por conta da histórica exclusão dos pobres e negros.

Silvana Ribeiro de 17 anos, moradora do bairro Zumbi dos Palmares, disse que sempre foi discriminada por se negra e por morar na favela. Ela contou que já perdeu vários empregos por isso. “Uma vez fui fazer uma entrevista para estágio em uma empresa. Chegando lá, me olharam de cima a baixo e me perguntaram onde morava e ainda fizeram uma gozação do nome do meu bairro. Fiz os exames tudo certinho e me disseram que ligariam para avisar sobre o estágio. Bom, até hoje estou esperando a ligação da empresa. Detalhe que só tinha eu de concorrente”, disse Silvana.

É triste saber que o racismo é tão naturalizado em nossa sociedade, pois esse exemplo da Silvana foi um dos vários que acontecem por ai. Nesse momento faço uma pergunta para todos e todas que estiverem lendo essa matéria. Quantas vezes estiveram em um ponto esperando um ônibus, e ao se aproximar uma pessoa negra, já surge no pensamento “Caramba é agora que eu vou ser assaltado (a)”, e quando vai ver não é nada!?

Uma vez estava na sala de aula, e passou um rapaz oferecendo um curso gratuito para os alunos. No formulário estava escrito “assinale a cor: branco, preto, pardo”. Minha amiga de sala olhou bem e disse; “É lógico que eu sou parda, né! Não sou preta”, sendo que ela era negra como eu. Percebi que muitas pessoas não aceitam sua negritude por terem medo de serem vistos pela sociedade como alguém que não se encaixa nos padrões estéticos das revistas de beleza. Aceitar sua negritude nada mais é do que valorizar seus traços culturais, sem se importar com o que as pessoas vão achar de você. E não teimar em acreditar que o racismo não existe e que temos todos os mesmos direitos.

Como já tinha falado no texto, o preconceito e o racismo sempre existiram, mesmo após a Lei Áurea. Vendo que o racismo e a repressão ao negro só cresciam com o passar do tempo, surge o Movimento Negro, lá pela década de 30.
Gilberto Batista Campos, historiador e militante do movimento negro, mais conhecido como Gilbertinho, diz que “o movimento negro sempre lutou pela valorização da cultura negra e pelo resgate da origem africana”. O movimento negro é um espaço de luta e um de seus objetivos é a valorização do povo negro e suas crenças e culturas. Hoje o movimento luta pela implantações de políticas públicas, ou seja, medidas que melhorem as condições da comunidade negra, já que a sociedade deve uma dívida impagável a população negra. Gilbertinho diz que “Uma das maiores vitórias adquirida pelo movimento foi à implantação de ações afirmativas com recorte racial (COTAS) e políticas públicas”.

Entretanto as cotas para negros não foram aceita na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), só a de estudantes de escolas públicas foram aceitas, sem o recorte racial. O movimento diz que as cotas sem recorte racial não foram uma vitória completa do movimento, mas irão esperar até o ano que vem para ver se elas irão contemplar a população negra. Bom, além da luta pela implantação de cotas na UFES, Gilbertinho diz que o movimento negro tem obtido grandes avanços. “Só em ver que hoje o debate contra o racismo está sendo feito pela própria sociedade, já é uma grande vitória, pois antes de tudo temos que matar o preconceito e o racismo dentro da cabeça das pessoas comenta ele”.





Dia da consciência negra, dia de luta!!

O dia 20 de novembro é uma data para se lembrar a resistência dos negros à escravidão. Foi exatamente nesse dia que Zumbi dos Palmares morreu lutando pela liberdade negra no nosso país. Zumbi dos Palmares foi o líder do Quilombo dos Palmares - que foi considerado o maior foco de resistência negra à escravidão no Brasil. Porque o dia 20 de novembro foi escolhido como o dia da Consciência Negra e não o dia 13 de maio, que é o dia oficial da escravatura? O dia 13 de maio foi a data em que a lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel. Como já disse no texto, essa lei foi uma tentativa de calar a boca dos negros em suas reivindicações, oferecendo lhes uma falsa liberdade, mesmo a lei áurea sendo assinada, podemos perceber que o racismo nunca deixou de existir, ou de se manifestar cruelmente em nossa sociedade.

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