quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Transtorno coletivo

Quem nunca passou mais ou menos umas duas horas com a bunda sentada em um ônibus? Ou nunca ficou esperando horas naqueles novos pontos de ônibus cobertos, que no verão bate sol e nos dias de chuva molha tudo!? Bem, eu não estou acostumado a pegar ônibus todos os dias não, até por que no meu dia-a-dia eu uso mais a minha bicicleta. Mas de tanto ouvir as pessoas falando mal dos ônibus, resolvi sair um dia para ver como é essa experiência.
Confiram aí:

É, cá estou eu no ponto de ônibus esperando o terminal do Ibes, que por sinal está demorando muito. Daqui do ponto já dá pra imaginar o cotidiano de quem anda de ônibus todos os dias. Enfim, lá vem o buzão¹. Cheguei no terminal, mas nossa, como o ônibus estava lotado!

Próxima Parada: Terminal de Campo Grande.
Pelo jeito esse ônibus também vai estar super lotado. A fila tem mais ou menos uns 100 metros de comprimento. Por aqui passam várias pessoas desde idosos conversando sobre saúde até garotas conversando “pegação”. Mas já estou aqui sentado há 30 minutos e nada do ônibus. Enquanto isso, uma senhora sentou do meu lado e começou a reclamar da espera pelo coletivo, dizendo que quase sempre passava por isso e que já não suportava mais. Conversa vai, conversa vem; e de repente aparece o ônibus super lotado! Será que eu vou nesta viagem? Hum, não sei, acho que vou nessa mesmo!

Dentro do ônibus era quase impossível entrar, e confesso que nessa hora quase desisti e voltei pra minha casa, mas lá vamos nós! No decorrer da viagem entra um senhor com uma sacola enorme atrapalhando os passageiros a se locomoverem dentro do coletivo. Eu, olhando aquilo, pensei: “andar de ônibus não é agradável, mas sim necessário”. A viagem até Campo Grande foi calada e cansativa. É muito engraçado, dentro do coletivo a gente olha para as pessoas e não vê nenhum sorriso, as pessoas olham umas para as outras estranhamente. E assim foram os longos 60 minutos dentro do ônibus. Isso sem falar no trânsito no meio do caminho. O buzão ficou um tempinho parado. Já estou vendo como vai ser daqui pra frente!

Cheguei ao terminal cansado, enjoado, com os pés doendo e como se não bastasse fui comprar uma casquinha de baunilha e o rapaz me deu uma de chocolate branco. Sentei então para tomar minha casquinha e nesse meio tempo, uma senhora com um sacolão² enorme, aparentava ter uns 50 anos, morena, sentou-se ao meu lado e começou a contar algumas moedas. Eu não perdi tempo e puxei assunto:
- Boa tarde!
- Boa tarde! (respondeu gentilmente a senhora)
- Muito cansada de andar de ônibus?
- Eu não ando de ônibus, saio pedindo dinheiro aqui, a minha situação está precária...por falar nisso, você não tem algum dinheiro pra me arrumar?
- Não senhora, eu estou completamente duro³ – respondi sem graça.

Terminei de tomar minha casquinha e continuei meu rumo para conhecer como é o dia-a-dia no ônibus. Minha próxima parada agora é o terminal de Itacibá, e, por incrível que pareça vou sentado nesse ônibus...UFA! Dentro do ônibus, dessa vez, tinha um casal que por alguns segundos não paravam de se beijar, isso é impressionante! Mas enfim, depois de 25 minutos cheguei ao terminal de Itacibá. Filas enormes, pessoas voltando do trabalho, outras chegando da escola, outras passeando. Casos, histórias, fofocas, brigas, muitas coisas nós encontramos dentro dos terminais e dos ônibus.

Mas por que será que pagamos tão caro? As empresas de ônibus chegam a explorar o passageiro com o preço da passagem, e a situação só piora. Lotação nos coletivos, filas, esperas por ônibus que demoram horrores fazem parte do dia-a-dia dos usuários de transporte público. Acho que falta mais uma mobilização dos passageiros quanto a isso, até por que quem precisa do ônibus somos nós, e temos esse direito por que pagamos R$ 1,85. Mas será que teríamos escolha além dos ônibus? Nós, de classe baixa, que não temos carro, nem moto, ou algum outro meio de transporte, temos escolha?

Depois de toda essa ‘viagem’, cansado e com dor nos pés, deu a hora de voltar pra minha casa, mas ainda não estou alegre... por que daqui até lá vai ser uma longa viagem! Mas fazer o que né? Eu não tenho escolha!”.


¹buzão: gíria usada para se referir aos ônibus hoje. É muito usado pelos jovens.
²sacolão: aumentativo de sacola plástica.
³duro: No sentido da frase, a gíria “estar duro’ ou ‘liso” significa estar sem grana.

* Para entender mais sobre gírias confira a ultima edição da nossa revista Olho da Rua, Valores da Periferia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esperamos que esteja tudo bem aí com vocês ... acaba de sair na tv que Vila Velha está praticamente submersa ...

Anônimo disse...

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